terça-feira, 7 de outubro de 2008

Seis badaladas

Ecoam os passos silênciosos de quem não os quer ouvir. Seis badaladas perfumam o ar, inebriando os calados fantasmas que assomam ao meu ombro. Sinto-me cansado. Cansado e sonolento.
Anseio no meu tom mudo o verter de um novo dia, raiado da ténue névoa das incertezas... Mas não hoje abrirei os meus olhos a tais emanações. Contemplo areias que se movem em linhas ascendentes, revolvendo a ampulheta do tecido temporal até épocas não mais atingíveis. Contemplo-as infindávelmente...
Num repente, explosões se incineram no dual interior do meu ser. Anjos do perdão e da complacência se debatem com negros fantasmas da raiva e rancor, julgados apenas pelo desgastante zumbido do silêncio, que me entorpece o sentido do paladar do som. Esventro a sombra de mãos alheias e silhuetas de pensamentos desordeiros, oriundos de fossas que me perseguem por malditos corredores dourados, silhuetas essas quais ratos surgidos das próprias vísceras do mundo para, com a sua pestilenta presença, envenenar um paraíso de exuberante equilíbrio. Evocativas de tempestuosas núvens, secaram o solo do qual brotara vida e cobriram no seu áspero manto encarquilhado as estrelas que tantos caminhos haviam traçado.

Hoje penso silenciosamente, às seis badaladas, no passado... Enquanto exorciso fantasmas que a mim não me pertencem.