Sacio uma vontade gutural na terceira pessoa
E pondero os místicos dizeres de além-ser.
Palpita pelas veias o sumo alado e ascendente,
Ode inaudível à esposa do hipotálamo, ela ressoa mesmo assim
Sereno esbracejas venoso que me comprime
Em forma antropomórfica desconhecida.
Exposta a minúcia da férrea corrente,
Monstro de cristais e mercúrio virulento,
Advém a mim, liliputiano imaginário, a suposição
De que vida invade a minha casa de carbono.
Mártir à condição craniana
Encolho-me qual ideia desviante
E masco pensamentos de discórdia e erotismo,
Extasiado pelos sons da madrugada.
Ardente pelo soltar da meninge,
Placenta envolvente e meu lar,
Quero saborear o prato genérico da consciência.
Monstro de escombros patológicos
Sem vesícula que me dissolva o desejo,
Arranho o crânio com a cor carmesim
E expulso as minhas dores agudas e reflexas
Em zumbidos estáticos e crescentes, vibrantes até ao estribo.
Mas eis que a sinfonia da sanidade
Se sobrepõe à minha cacofonia inquieta
Com o acordar do escudo da córnea,
Inundando-me de vaporosas trevas novamente.
Fecho o meu tórax e resfrio o meu canto
Para voltar a ser um feto de temores,
O parceiro do polígamo mestre raiado,
Cujo reino é o esqueleto e o fosso a louca consciência.
Sou novamente homúnculo,
O desejo de quem não me controla.
4 comentários:
Este poema não está nada mal, gosto da forma, tem bom ritmo, e o conteúdo não o trai. Só precisavas de conhecer melhor a temática esotérica que tomas como símbolo. Acho que O Golem do Gustav Meyrink seria uma boa leitura; está traduzido, penso que na Difel, mas não estou certo.
@Lord of Erewhon: não abordo o homúnculo como forma esotérica mas sim da perspectiva da corrente psicológica hoje obsoleta de que o cérebro era um pequeno ser humanóide. Houve quem o retratasse apenas como desejos primários e infundamentados.
Interessante... mas o cérebro reptiliano é mais «animalesco». De qualquer modo, toda a medicina, da mente inclusa, remonta à Tradição Esotérica, toda.
Sim, alguns dos termos vão beber à teologia e mitos. No entanto, a partir da segunda metade do século 20, sensivelmente, essa "moda" caiu em desuso.
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